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A dança do Rei Davi

   O Rei Davi foi o segundo rei de Israel. Entrou para a história do povo graças aos próprios feitos ou feitos atribuídos a ele. Matou o gig...

 


 O Rei Davi foi o segundo rei de Israel. Entrou para a história do povo graças aos próprios feitos ou feitos atribuídos a ele. Matou o gigante filisteu usando apenas uma funda (algo parecido com um estilingue), escreveu salmos, escolheu Jerusalém para capital, além de empreender outras realizações. 

Para unificar o povo, Davi recolheu numa carroça nova (2 Samuel 6,3), a Arca da Aliança, que era o sacramento da religião das tribos. No transporte da mesma para Jerusalém, fez uma grande festa. A cada seis passos dados com a arca sobre os ombros, matava um boi e um bezerro gordo sacrificando-os a Javé. Diante da Arca, Davi trajando um efod (espécie de colete que sustentava o peitoral) dançava com o povo em homenagem a Javé (2 Samuel 6, 13-15). Ao final da festa, abençoou o povo e presenteou cada um com bolos, pães e doces. O entusiasmo e a dança de Davi ocasionaram inclusive o desprezo de Saul, seu antecessor.

A dança do Rei Davi me faz pensar na maneira como conduzimos hoje nossas celebrações. Com algumas exceções, nossas liturgias são frias e racionais. Existem muitos "Sauls" perto de nós e não queremos assustá-los. A exceção, nesse caso, fica por conta da religiosidade popular ou pelos movimentos de inspiração pentecostal. Os membros do Congado, por exemplo, dançam o dia todo diante da bandeira de Nossa Senhora do Rosário. Não têm medo das criticas, nem sempre construtivas…  Os "palhaços" que participam da Folia de Reis, também dançam e fazem trejeitos. Os figurantes da Semana Santa e outras festas também se expõem sem medo de críticas. A Renovação Carismática, mais recentemente, enriqueceu a liturgia com gestos, palmas e danças. Alguns pensam ser exagero, outros gostam do calor das celebrações.

O espaço litúrgico é um espaço nobre e não deve ser ignorado. O excesso de razão pode tornar as celebrações frias e sem vida. Mas, o excesso de sentimentos pode torná-las igualmente vazias e superficiais. Bom seria, se em nossas liturgias, usássemos o tempero correto. "Nem tanto ao mar, nem tanto à praia". Temos um coração que pulsa no peito. Somos passionais. Mas, Aristóteles, filósofo grego, afirmava que o homem é um animal racional. A afirmação que não nega nosso lado animal afirma a racionalidade como diferencial para o homem. Além desse equilíbrio entre razão e emoção é preciso que se tenha também a noção de espaço sagrado. Cada espaço pede um tipo de comportamento. Fiquei chateado, certa ocasião, ao visitar a Igreja do Getsemani, em Israel e encontrar um grupo de inspiração neopentecostal que celebrava com grande profusão de alegria naquele ambiente que, em minha opinião, pedia recolhimento. Afinal, aquele era o lugar da traição de Judas e a Igreja sombria, quase escura, lembrava esse fato carregado de dor e tristeza. Da mesma forma não se tem noção do espaço sagrado quando antes de qualquer celebração o barulho na Igreja atrapalha a concentração de quem quer rezar. O espaço sagrado não é um espaço de sedução. Por isso, é preciso prestar atenção até mesmo nas roupas que se usam na Igreja.

As celebrações não devem ser sisudas e tristes. Não é isso que estou afirmando. Existem momentos diversos que pedem atitudes diferentes. A liturgia prevê tempos festivos e alegres durante os quais se batem palmas ou dançam se for o caso. Mas, nada de querer fazer isso durante a Semana Santa. O tempo litúrgico pede maior recolhimento e oração. Por isso, a quaresma sempre começa com a Quarta-feira de Cinzas e um apelo à conversão e mudança de vida. 

Foto destaque: https://pixabay.com/pt/photos/rei-medieval-idade-m%c3%a9dia-cavaleiro-1841529/

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